terça-feira, 3 de agosto de 2010

«Rolhas de cortiça ganham o direito a uma segunda vida»

02.08.2010 PÚBLICO

Mais de 40 toneladas de rolhas foram recicladas nos últimos cinco anos

Matéria prima também chega de fora, incluindo dos Estados Unidos

A Junta da Freguesia da Ericeira recolheu no mês passado mais de meia tonelada de rolhas de cortiça para reciclagem. O Verão está a ajudar, mas, mesmo assim, o presidente, António Mansura, diz que é um "bom resultado", face às 1,2 toneladas conseguidas entre 2005 e 2009. As rolhas vêm dos restaurantes e das casas particulares da zona e são entregues a um parceiro empresarial da Junta, o qual se encarrega da reciclagem.

A Oficina da Terra Crua faz a sua própria reciclagem, sem recurso a empresas especializadas. Selecciona as rolhas, tritura umas e deixa outras inteiras e usa-as nos seus projectos de construção ecológica. Com este método, já reciclou cerca de 25 toneladas de rolhas de cortiça, vindas de pontos de recolha distribuídos por vários municípios do Centro e Sul do país, instituições e casas particulares.

A Quercus promove a reciclagem de rolhas de cortiça como meio para a plantação de árvores autóctones, desde Junho de 2008. O projecto é conhecido por Green Cork e tem a parceria da Corticeira Amorim. Os dados oficiais dizem que recolheu, até Janeiro de 2009, 12 toneladas. A associação ambientalista actualiza os dados e diz que até Março passado, juntou 30 toneladas.

São casos como estes que ilustram a crescente adesão dos portugueses à segunda vida da rolha de cortiça, que acaba por "proteger a cortiça, proteger o sobrado e proteger a natureza", diz Vera Schmidberger, arquitecta e responsável pela Oficina da Terra Crua.

Não há, neste momento, dados estatísticos disponíveis que mostrem quantas toneladas de rolhas o país recicla anualmente, o que torna o exercício muito incerto. Contudo, quem está ligado à recuperação desta matéria-prima garante que Portugal é dos que mais reaproveitam e não se limita ao espaço português. Recebe rolhas de vários pontos do mundo, incluindo dos aeroportos dos Estados Unidos.

Há quatro anos, a Euronatura, uma organização não-governamental especializada em investigação e política ambiental, aderiu a um projecto europeu de promoção do reaproveitamento das rolhas de cortiça, que constitui hoje uma rara fonte disponível para avaliar a importância que os portugueses dão ao assunto.

Segundo o ranking de reciclagem, disponibilizado pela Euronatura e agregando as instituições com as quais possui acordos de investigação, verifica-se que os portugueses reciclaram para cima de 43 toneladas de rolhas de cortiça desde 2005. É um valor por defeito, não só porque não engloba todas as entidades que se dedicam a esta reciclagem no país, como os dados são referentes ainda a 2009.

A lista, publicada no site da Euronatura, é liderada por alemães e franceses, seguindo-se quatro entidades portuguesas: Oficina da Terra Crua SLA, a Quercus, a Associação Guias de Portugal e a Junta da Ericeira, o único organismo do poder local.

Apesar dos números e da aparente disponibilidade para dar um novo destino às rolhas de cortiça, os promotores precisam de sentir que são recompensados.

Até Março de 2009, e com o apoio da Quercus, a Junta da Ericeira entregou à Corticeira Amorim cerca de 1,2 toneladas de rolhas. Recentemente, mudou de parceiro. Mansura não revela a sua identidade, nem montantes nem razões, mas diz que, neste momento, a freguesia está a receber uma quantia "aceitável" por cada tonelada de rolhas que entrega.

A Oficina da Terra Crua, que tem uma rede de parceiros voluntários, compara o exemplo português com a Alemanha. Vera Schmidberger considera que o país "ainda está muito longe dos outros". "Na Alemanha usam-se outros serviços, há um voluntariado próprio. Por exemplo, um camião que vá fazer uma descarga, quando volta, não vem vazio, vem com rolhas", adianta Vera Schmidberger.

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