sábado, 30 de outubro de 2010

Arq. Ribeiro Telles: «Foi uma lição para a revisão do Plano Director Municipal»

Ribeiro Telles diz que chuva veio na hora certa

O que se passou ontem em Lisboa "foi uma lição" para o novo Plano Director Municipal da cidade, que se encontra em fase de discussão, avisa o arquitecto paisagista Ribeiro Telles.

Em causa está a possibilidade de aumentar a construção nos logradouros (que são os quintais e outros terrenos habitualmente situados nas traseiras dos prédios) que o futuro regulamento abre. Ribeiro Telles tem-se manifestado frontalmente contra esta intenção, por causa daquilo que ela pode implicar em termos de impermeabilização do solo: "O aumento dos caudais de água da chuva e da sua velocidade de passagem". O arquitecto mora na Rua de S. José, nas traseiras da Av. da Liberdade, e ficou várias horas sem electricidade, devido a um corte de energia na zona provocado pelo mau tempo. O cenário que viu da sua janela foi suficiente: "Isto tinha que acontecer. Abrem-se caves em prédios situados em cima de ribeiras subterrâneas... Não quer dizer que tenha chovido mais que noutras ocasiões, mas o escoamento da água foi menor".

Como o novo Plano Director Municipal (PDM) ainda não foi aprovado, Ribeiro Telles diz que a chuvada de ontem chegou em boa hora - a tempo de fazer os responsáveis da Câmara de Lisboa repensar o assunto.

Mas, para o vereador da Câmara de Lisboa encarregue da revisão do PDM, Manuel Salgado, estas críticas radicam num equívoco: "O novo PDM só abre a possibilidade de aumentar a construção nos logradouros nos locais onde ela já existe. Se considerarmos toda a cidade, a área permeável até aumenta". Como? "Através da criação de um sistema de retenção das águas da chuva e de infiltração no solo", prevista também na revisão do Plano Director Municipal.

Ribeiro Telles chama ainda a atenção para o facto de a câmara continuar a autorizar a construção de caves cidade fora, agravando um problema que se estende a toda a Área Metropolitana de Lisboa. (in Público)

NOTA: Muitos prédios lisboetas têm pequenos jardins ou quintais que ajudam a absorver as águas pluviais. É lamentável que estejam ameaçados pelo novo PDM proposto pelo actual executivo da CML. Porquê? Porque continuamos a planear a cidade para os carros - todos sabemos que o motivo para a alteração da lei é a pressão imobiliária que só se interessa pela reabilitação se conseguir abrir caves para estacionamento nos logradouros. Será justo todos pagarmos um preço alto porque a sociedade não quer sair de um modelo de mobilidade obsoleto? Foto: Rua Diogo Bernardes em Alvalade.

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